Curiosidades Olímpicas

Fonte: Comitê Olímpico Brasileiro

1.Introdução

Período:  26 de agosto a 10 de setembro

Países: 121                   Atletas: 7.147 (5.848 h e 1.299 m)  

Atletas Brasileiros: 89 (84 h e 5 m)

Modalidades: atletismo, basquete, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica artística, hipismo, hóquei na grama,  levantamento de peso, luta, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo,  saltos ornamentais, tiro com arco, tiro esportivo,  vela e voleibol.

Medalhas Brasileiras: 2 Bronzes 

2. Cenário Brasileiro

Em 1972, quando o Brasil celebrava os 150 anos da Independência, o presidente  era o General Emílio Garrastazu Médici. Foi talvez o período mais tenso dos 21 anos do regime militar brasileiro, que só terminaria com a posse de José Sarney. Havia crescimento econômico, mas ao mesmo tempo haviam pessoas no exílio ou outras cumpriam penas de prisão por motivos políticos.

Dois anos antes, a seleção brasileira havia conquistado o tricampeonato mundial de futebol, no México, e uma onda de celebração e orgulho se espalhou pelo país. O crescimento econômico significou aumento no consumo e na produção . A chegada de uma série de avanços em diversas áreas da indústria brasileira contribuiu para a abertura de novos postos de trabalho. Ainda assim, as tensões persistiam.

Foi o ano em que o escritor mais popular do Brasil, Jorge Amado, publicou o romance Tereza Batista cansada de guerra, enquanto o país descobria, encantado, a televisão em cores. Da Bahia para todo o país, Moraes Moreira arrasava platéias entusiastas com sua música esfuziante.

 Vivia-se o pleno furor do chamado Milagre Econômico, como tornou-se conhecido aquele período polêmico de intenso crescimento da economia brasileira.

Foi o ano em que um jovem jogador de xadrez Henrique Mecking, o Mequinho, ganhava o título de Grande Mestre Internacional. Emerson Fittipaldi, muito veloz nas pistas, foi o primeiro brasileiro a ser campeão mundial de Fórmula 1.

Enquanto tudo isso acontecia, o país também acompanhou a ousada e bela rebeldia da atriz Leila Diniz, que cometeu a profunda indelicadeza de morrer naquele ano escuro, quando sua luz passou a fazer tanta falta.

3. Cenário Mundial 

Nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon anunciava o fim da guerra com o Vietnã. Na verdade, foi preciso esperar um pouco mais – começo de 1973 – para a notícia se confirmar na prática. O saldo da guerra foi de pelo menos 58 mil soldados norte-americanos mortos, milhões de vítimas no lado vietnamita e um país que finalmente deixava de ser colônia para entrar num regime comunista. Era tudo que Washington não queria, mas não havia mais nada a fazer.

Foi o ano do filme O Poderoso Chefão revelar um diretor excepcional, Francis Ford Coppola, e um ator brilhante chamado Al Pacino, além de confirmar o veterano Marlon Brando como um dos maiores atores de todos os tempos.

A Europa consolidava o Mercado Comum Europeu, criado em 1958, mas que só deslanchou de verdade em 1971. Eram tempos bravos no Oriente Médio, com a eterna crise entre Israel e os países árabes ardendo.

No meio disso tudo, foram realizados os XX Jogos Olímpicos em Munique, na Alemanha. A idéia dos alemães era transformar aqueles Jogos numa demonstração de paz, alegria e confraternização universal. Uma vez mais, o espírito olímpico deveria pairar sobre as turbulências do mundo.

A festa de abertura foi programada para isso. Cinco mil pombas brancas foram soltas e dez mil atletas desfilaram para uma platéia entusiasmada de esperança. Para acolher os visitantes, o pais inteiro se embelezou. Construíram ruas e avenidas, casas foram reformadas e nos jardins plantaram-se tulipas e narcisos. Vários heróis olímpicos estavam lá . Emil Zatopek, Johnny Wessmuller, Jesse Owens – aquele que na mesma Alemanha, 36 anos antes, havia resgatado o espírito olímpico – e Abebe Bikila. O secretário geral da ONU, Kurt Waldheim, também apareceu.

 

4. Os XX Jogos Olímpicos – A Tragédia

O que ninguém sabia era que os Jogos seriam abalados por uma tragédia, sem precedentes em eventos esportivos, provocada justamente pela radicalização que o Comitê Olímpico Internacional tanto quis manter afastado de seus calendários: os enfrentamentos políticos, desta vez carregado de radicalismo.

Na madrugada do dia 5 de setembro, oito homens com uniforme de atletas chegaram na Vila Olímpica e entraram no edifício onde estava a delegação de Israel, no número 31 da Connollystrasse. Fizeram muito barulho e acordaram Moishe Weiber, que além de técnico da equipe de luta greco-romana era agente secreto israelense. Ele foi metralhado. Depois, veio a vez do halterofilista Joseph Romano ser morto. E então, pegaram de surpresa o juiz de luta livre Yosef Gutfreund, que se rendeu e foi feito refém junto com outros oito membros da delegação. Só então as negociações começaram.

Os oito homens não eram atletas de nada: faziam parte de um grupo extremista chamado Setembro Negro, que exigia a libertação de 200 prisioneiros que estavam em Israel. Queriam também um avião para sair da Alemanha. Chegaram a um acordo com as autoridades alemãs, e na noite daquele mesmo dia os oito sequestradores, junto com os nove israelenses, pegaram dois helicópteros e desceram no Aeroporto Militar de Munique. Esta escuro. Atiradores de elite se preparavam para uma emboscada. Quando o tiroteio começou, três dos palestinos caíram. Outro foi mais rápido e jogou uma granada no helicóptero onde ainda estavam os reféns. Morreram todos. E junto com os atletas inocentes, morreram também as esperanças de que aqueles fossem de verdade os Jogos da paz e da confraternização.

Durante 34 horas tudo foi suspenso. Houve quem defendesse a suspensão definitiva dos Jogos. Mas o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Avery Brundage, definiu tudo numa frase. “The games must go on”. E já que os Jogos deveriam continuar, o calendário foi cumprido. O preço do horror foi alto: foi como se ali todos soubessem que nunca mais o espírito romântico que o Barão de Coubertin sonhou para os Jogos seria resgatado.

5. Os XX Jogos Olímpicos – Os Resultados – Atletismo

No atletismo, uma dupla ausência inesperada: os norte-americanos Eddie Hart e Rey Robinson eram recordistas mundiais dos 100 metros rasos e favoritos. No dia das eliminatórias, eles estavam refastelados na Vila Olímpica, vendo os Jogos pela televisão, quando descobriram que deveriam estar na pista. O chefe da equipe, Stam Wright, havia se enganado de programa Resultado: os favoritos absolutos não chegaram a tempo e não puderam competir.

Uma das maiores surpresas aconteceu na prova de salto com vara. De 1896 até 1968, os vencedores foram todos norte-americanos. Em Munique, o vencedor foi Wolfgang Nordwig, da Alemanha Oriental, que voou por cima do sarrafo colocado a cinco metros e cinquenta centímetros de altura. Essa marca só seria superada oito anos depois, nos Jogos de Moscou.

É do salto com vara o domínio mais longo em qualquer esporte nas Olimpíadas, com apenas um país embolsando 16 ouros consecutivos. Da primeira edição dos Jogos, em Atenas-1896, até a Cidade do México-1968, só deu Estados Unidos. O tabu foi quebrado em Munique-1972, com o ouro de Wolfgang Nordwig, da Alemanha Oriental, numa disputa cercada de polêmicas. A Federação Internacional de Atletismo proibiu o uso de novas varas com fibra de carbono, depois retirou a proibição, depois proibiu de novo, e a disputa virou bagunça. Nordwig, que não tinha se adaptado às novas varas e vinha usando as antigas, se deu bem e levou o ouro.

6. Os XX Jogos Olímpicos – Os Resultados – Boxe

Munique viu surgir outro fenômeno absoluto na história dos Jogos; o boxeador cubano Teófilo Stevenson. Ele foi o mais duradouro campeão olímpico dos pesos-pesado, e mantendo o espírito do Barão de Coubertin, jamais quis se profissionalizar.

7. Os XX Jogos Olímpicos – Os Resultados – Mark Spitz

Mas Munique também teve suas glórias e foi testemunha do surgimento de heróis . Mark Spitz, p.ex., dentro dágua, fez o que quis. Ganhou sete das 14 medalhas de ouro. E mais: cada uma dessas vitórias significou para o nadador de 22 anos um novo recorde mundial para os 100 e 200 metros nado livre, os 100 e 200 nado borboleta, e as três provas de revezamento. Dentro da piscina, o nome Mark Spitz passou a ser considerado sinônimo de perfeição. Depois de Munique, ele resolveu parar. Mas continua nos Estados Unidos e em todo o universo do esporte, como um dos maiores ícones do Seculo XX. Afinal Mark Spitz foi, até hoje, o único atleta da história olímpica a conquistar sete medalhas de ouro em apenas uma jornada dos Jogos.

8. Os XX Jogos Olímpicos – Os Resultados – Basquete

Dos desencontros, um que chamou a atenção ocorreu no basquete. Até Munique, jamais os norte-americanos haviam sido superados nos Jogos Olímpicos. Eram 62 vitórias e nenhuma derrota.

Os soviéticos, rivais diretos, tinham conquistado quatro medalhas de prata e, em 1952, a de bronze. A partida decisiva em Munique foi marcada para a manhã de sol de um domingo.

O primeiro tempo terminou com um placar de 26 a 21 para os soviéticos.

Ao final do jogo, faltava um segundo para acabar e os Estados Unidos venciam por 50 a 49, e os soviéticos pediram tempo.

Quando o jogo recomeçou, o inglês William Jones, dirigente da Federação Internacional de Basquete, avisou que o cronômetro deveria voltar três segundos.

Os soviéticos marcaram 51 a 50, e ninguém jamais conseguiu conformar os americanos.

Na hora de receber as medalhas de prata, não apareceu nenhum jogador dos Estados Unidos.

Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, Renato Righetto foi escalado para apitar a final do torneio masculino de basquete, entre Estados Unidos e União Soviética, em plena Guerra Fria.

O jogo acabou em confusão; restando três segundos para o término da partida, os norte-americanos venciam por 50 a 49 e recuperaram a posse de bola.

O técnico soviético reclamou que o árbitro brasileiro não havia atendido a um pedido de tempo anterior àquele lance.

Presente ao ginásio, o secretário-geral da Federação Internacional de Basquete, o inglês William Jones, interveio, aceitando o protesto.

Com isso, os soviéticos fizeram a cesta e ficaram com a medalha de ouro.

Aquela foi a primeira derrota do basquete norte-americano em jogos olímpicos. 

Righetto, porém, discordou e recusou-se a assinar a súmula e os norte-americanos se recusaram a receber as medalhas de prata, que continuam guardadas com o COI.

9. A Delegação Brasileira 

Para o Brasil, os Jogos de Munique serviram mais uma vez, de importante aprendizado.

Na bagagem de volta, duas importantes medalhas de bronze.

Nélson Prudêncio tornou a subir no pódio do salto triplo. No México, quatro anos antes, ele havia obtido a medalha de prata. Em Munique, ganhou a de bronze, depois de ter saltado 17 metros e cinco centímetros – 22 centimetros a menos que nos Jogos anteriores. Prudêncio, um paulista tímido, foi um dos esportistas brasileiros mais bem-sucedidos na história dos Jogos Olímpicos.

A outra medalha de bronze foi conquistada por Chiaki Ishii, nascido no Japão e naturalizado brasileiro. Lutador de judô, que propiciou uma brilhante caminhada para o futuro deste esporte no Brasil.

O futebol brasileiro, que dois anos antes havia conquistado pela terceira vez a Copa do Mundo, perdeu para o Irã e acabou eliminado logo na primeira fase. Naquele time havia algumas promessas que, depois, se confirmaram grandes jogadores: Falcão, Dirceu e Roberto Dinamite, por exemplo.

Mais sorte tiveram os brasileiros no iatismo – quarto lugar nas classes Flying Dutchman e Star, com Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes na primeira e Jan Willen Aten e Joerg Bruder na segunda.

Nas piscina, Sylvio Fiolo foi o quarto colocado nos 100 metros nado de peito, e fez parte da equipe de revezamento que chegou em quinto lugar na prova dos 4 x 100 metros medley. Outra equipe de revezamento, que participou da prova dos 4 x 100 metros nado livre, chegou em quarto lugar.

A seleção de vôlei, que teve nas quadras nomes que mais tarde brilhariam, também terminou em sétimo lugar.

Alexandre, Bebeto, Delano e Paulo Russo brilharam neste evento e nos seguintes também.

10. A Delegação Brasileira – Basquete 

O basquete brasileiro, em uma etapa de transição entre gerações de jogadores, ficou em sétimo lugar. Duas partidas terminaram com placar apertadíssimo: contra Cuba, a seleção brasileira perdeu por apenas um ponto; contra Porto Rico, por quatro.

A Equipe Brasileira era composta por Adílson, Mosquito, Fransérgio, Hélio Rubens, Joy, Edvar, José Geraldo, Menon, Marquinhos, Radvilas, Ubiratã e Dódi, e todos sob o comando de Togo Renan Soares – O Kanela.

Um timaço!

11. A Delegação Brasileira – Basquete – Ubiratã e Marquinhos

Nos Jogos Olímpicos de Munique, a Seleção Brasileira apresentou uma fantástica dupla de jogadores de basquete, e que jogavam na mesma posição – O PIVÔ.

Ubiratã e Marquinhos – dois jogadores espetaculares.

Sem dúvida, encontram-se na lista dos melhores pivôs que a Seleção Brasileira já apresentou.

Por esta razão é que neste post o Combinado Copacabana presta esta justa homenagem a estes craques.

Marquinhos atuou na Seleção Brasileira desde 1969 a 1984, enquanto que Ubiratã autuou na Seleção Brasileira no período de 1963 a 1979.

É bem verdade que esta homenagem também estende-se àqueles treinadores que os incentivaram e forneceram subsídios técnicos aos atletas. Na história do Marquinhos, ele mesmo faz espetacular referência ao seu treinador nas categorias de base do Fluminense – Orlando Gleck – uma pessoa que foi responsável pela orientação a toda uma geração de jogadores no Rio de Janeiro, nos anos 60 e 70, passando dedicação e conhecimentos absorvidos ao longo de sua carreira de atleta.

Infelizmente, ainda não obtivemos dados para inserir os principais técnicos responsáveis pela formação de Ubiratã – assim que as tivermos, estas serão incluídas. Como referência, citamos o início de sua carreira no Clube Esperia (SP), nos anos de 1960 a 1961.

12. A Delegação Brasileira – Basquete – Os Jogos

Jogou 9 partidas, obtendo 5 vitórias e 4 derrotas, para as equipes norte-americana, australiana, cubana e porto-riquenha.

Brasil 110 x 55 Japão          Brasil 110 x 84 Egito          Brasil 72 x 69 Espanha

   Brasil  54 x 61 EUA              Brasil 83 x 82 Tcheco-Eslováquia      

Brasil 69 x 75 Austrália                 Brasil 63 x 64 Cuba

    Brasil 83 x 87 Porto Rico               Brasil 87 x 69 Tcheco-Eslováquia

Assim, os resultados internacionais da Seleção Brasileira em eventos mundiais passaram a ser:

Olimpíada de Berlim 1936 – 9o. lugar

XIV Olimpíada de Londres 1948 –  3o. lugar

I Campeonato Mundial na  Argentina 1950 – 4o. lugar

XV Olimpíada de Helsinque 1952 – 6o. lugar

II Campeonato Mundial no Rio de Janeiro 1954 – 2o. lugar

XVI Olimpíada de Melbourne 1956 – 6o. lugar

III Campeonato Mundial em Santiago do Chile 1959 – 1o. lugar

XVII Olimpíada de Roma 1960 – 3o. lugar

IV Campeonato Mundial no Rio de Janeiro 1963 – 1o. lugar

XVIII Olimpíada de Tóquio 1964 – 3o. lugar

V Campeonato Mundial 1967 – Uruguai – 3o. lugar

XIX Olimpíada de México 1968 – 4o. lugar

VI Campeonato Mundial na Iugoslávia – 2o. lugar

XX Olimpíada de Munique 1972 – 7o. lugar

 

12. A Delegação Brasileira – Participantes

13. Rumo a Montreal 

Aqueles Jogos encerraram uma etapa na história. Nem tanto pelos resultados ou pelos heróis que surgiram em Munique, e que obtiveram marcas importantes. Mas pela invasão terrível da violência política num mundo que era para ser só dos esportes olímpicos. A política havia surgido no México. Em Munique, o que se instalou foi o terror.

Na cerimônia de encerramento, muita gente chorava no estádio. E naõ pelas derrotas na pista : pea derrota da raça humana.

No placar eletrônico, uma saudação ao próximo endereço dos Jogos: Montreal, no Canadá. Ou seja, apesar de tudo, os Jogos deveriam continuar e, com eles, embora machucada, a esperança.