Curiosidades Olímpicas

1956 - Melbourne

Fonte: Comitê Olímpico Brasileiro

1.Introdução

Período:  22 de novembro a 8 de dezembro

Países: 72                   Atletas: 3.342 (2.958 h e 384 m)  

Atletas Brasileiros: 48 (47 h e 1 m)

Modalidades: atletismo, basquete, beisebol (demonstração), boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, futebol australiano (demonstração), ginástica artística, hipismo, hóquei sobre grama, levantamento de peso, luta, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tiro esportivo e vela.

Medalhas Brasileiras: 1 Ouro 

 

2. Cenário Mundial

Em 1956, o Brasil iniciava uma das etapas mais marcantes da segunda metade do Século XX. O país ainda se refazia do impacto provocado pelo falecimento do presidente Getúlio Vargas. A chegada ao poder do presidente Juscelino Kubitschek mudou o panorama. Ainda assim não foi fácil tomar posse: raras vezes na história brasileira o vencedor nas urnas enfrentou tamanha oposição dos setores mais conservadores do país.

JK controlou a situação e lançou em 1956 um Plano de Metas para acelerar o desenvolvimento econômico do país. Planejou a criação de Brasília, a nova capital plantada nos ermos do planalto central.

O lema do Governo JK era “50 anos em 5“, sendo que ao final do seu mandato constatou-se que JK fez, em 5 anos, mais do que qualquer outro presidente.

As novidades eram a Lambretta, os tênis e jeans. No período JK, respirava-se o progresso e entusiasmo. Com isso, surgia uma formidável ebulição nas artes: “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa, criação do Teatro de Arena, e de Encontro Marcado,  romance de Fernando Sabino.

Nestes anos, pela primeira vez trabalharam juntos um refinado pianista Antonio Carlos Jobim e um poeta Vinicius de Moraes, na peça Orfeu da Conceição.

Surgia a TV nas salas da população com mais de 1 milhão de espectadores. Mas, popular mesmo era o rádio onde as estrelas cantavam como Ivon Curi, Ângela Maria, Marlene, Blecaute, Emilinha Borba, além de Dolores Duran, compositora e cantora de enorme talento. Cantando Conceição, Cauby Peixoto levava platéias a grande delírio. Foi o carnaval de consagração da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira que, na voz de Jamelão, surgiu Exaltação à Mangueira, que começa assegurando que “Mangueira, teu cenário é uma beleza, que a natureza criou”.

Bonança e novos climas no Brasil, tensão em vários lugares do mundo. Nos Estados Unidos, o general Dwight Eisenhower, entre outras coisas,  acompanhava o movimento pelo fim da segregação racial. Um pastor protestante Martin Luther King liderava mobilizações populares cada vez maiores. Quem também reunia multidões era um novo fenômeno da indústria da diversão, Elvis Presley. O ritmo da moda havia se instalado: um tal de rock’n roll.

Do outro lado do mundo, o primeiro-ministro soviético Nikita Khruschev divulgou o relatório denunciando os excessos de seu antecessor Joseph Stalin. Um susto nos comunistas mais convictos, comparável apenas ao que as tropas soviéticas provocariam ao invadirem a Hungria.

No Oriente Médio, o presidente do Egito Gammal Abd-Al Nasser decretou a nacionalização do Canal de Suez. Sem perder tempo, tropas da França e da Inglaterra ocuparam o Canal. Os países árabes aproveitaram para abrir uma nova crise com Israel.

Na maior das ilhas do Caribe – Cuba – um bando de jovens armados aportava numa lancha vinda do México, para derrubar a ditadura de Fulgêncio Bastista. Foram emboscados no desembarque. Doze sobreviveram, entre eles um advogado cubano – Fidel Castro –  e um médico argentino e asmático – Ernesto Guevara, o Che.

Naquele ano foram realizados os XVI Jogos Olímpicos em Melbourne, na Austrália. Algumas crises políticas afetariam a sua realização. Primeiro a China continental de Mao Tsé-Tung exigiu que Taiwan, a pequena ilha que insistia em se chamar de China ficasse de fora. O Comitê Olímpico Internacional disse não, e a China comunista resolveu que seus atletas não iriam à Austrália. Depois o Egito, Líbano e Iraque – exigiram que Israel ficasse de fora. Uma vez mais, o Comitê se recusou a aceitar a imposição. Resultado: os egípcios decidiram não participar. E mais: por causa da invasão da Hungria, três países europeus – Holanda, Espanha e Suíça – resolveram não mandar delegações a Melbourne, como forma de protestar. Na última hora a Suíça voltou atrás.

Além disso, uma febre equina assolava o mundo, e as autoridades australianas resolveram impor uma quarentena de seis meses para os cavalos que entrassem no país. A saída foi promover essas provas na Suécia. Pela primeira vez os Jogos Olímpicos tiveram provas disputadas em dois países.

O resultado de todas essas confusões se refletiu no número de participantes, pois estiveram em Melbourne cerca de 2.000 atletas a menos dos que tinham participado dos Jogos de Helsinque.

3. Destaques Principais

Feita a conta do resultado final, aqueles Jogos marcaram época. O principal destaque no atletismo foi o soviético Vladimir Kuts que venceu os 5.000 e os 10.000 metros rasos, quebrando os dois recordes olímpicos. O norte-americano Charles Dumas assombrou o mundo na prova do salto em altura (2,15 metros), novo recorde mundial. Nos 100 e 200 metros rasos, outra estrela dos Estados Unidos – Bobby Morrow – foi o primeiro corredor desde Jesse Owens a ganhar as duas provas. No lançamento de disco, despontou em Melbourne o norte-americano Al Oerter, ao lançar o disco a 59,18 metros, ganhando assim a primeira de quatro medalhas de ouro consecutivas nos Jogos Olímpicos, e inscreveu para sempre o seu nome na galeria dos heróis do esporte.

Nas piscinas as nadadoras australianas brilharam. Dawn Frase foi a grande vencedora da prova dos 100 metros nado livre, e repetiria a façanha nos dois Jogos seguintes. Lorraine Crapp tornou-se a primeira nadadora a percorrer os 400 metros em menos de 5 minutos. A natação masculina também teve como destaques os nadadores australianos. David Thiele ganhou a prova dos 100 metros nado de costas, John Handricks a dos 100 metros nado livre. Murray Rose as dos 400 e 1.500 metros nado livre.

Nenhum desses resultados, chegou a abalar o desempenho de um brasileiro nos Jogos de Melbourne. Pela primeira vez, o Brasil inscreveu um atleta no panteão dos grandes heróis: Adhemar Ferreira da Silva, que voltou para casa trazendo sua segunda e consecutiva medalha de ouro na prova do salto triplo.

Até chegar a Melbourne houve muito desgaste. Depois de muitas voltas dadas e muito esforço feito, deu tudo certo. Em Melbourne o Brasil participou com 48 atletas, a menor delegação desde os Jogos de Paris, em 1924. Havia apenas uma mulher, Mary Dalva Proença, que competiu nos saltos ornamentais.

José Telles da Conceição, que em 1952 conseguiu a medalha de bronze no salto em altura, chegou em sexto lugar na final dos 200 metros rasos, um resultado bastante digno. No boxe, a revelação foi um nome que alguns anos depois o mundo aprenderia a reverenciar: Éder Jofre. Ele ficou em quinto lugar na categoria dos pesos-galo, após perder para o chileno Cláudio Barrientos.

Quer dizer, de Melbourne a delegação voltou com resultados dignos e um fenômeno, chamado Adhemar Ferreira da Silva.

Um ano antes, nos Jogos Pan-americanos disputados na Cidade do México, ele tinha saltado 16,56 metros, batendo seu próprio recorde mundial. Em Melbourne houve um adversário perigoso, inesperado e sorrateiro: uma violenta dor de dente que apareceu 3 dias antes da prova. A notícia se espalhou pela Vila Olímpica, e muita gente apressada concluiu que Adhemar era carta fora do baralho: com o rosto inchado e dolorido, dificilmente ele daria seus saltos de pantera imbatível.

Os apressados esqueceram que os dentistas existem. Sem nenhuma dor, Adhemar superou todos os 31 adversários e garantiu sua segunda medalha de ouro.

Aos 29 anos de idade, dez anos depois de dar o seu primeiro salto levado por um amigo, ele se tornou o único brasileiro a ganhar duas medalhas de ouro consecutivas na mesma prova.

O time masculino de basquete, que seria campeão mundial em 1959, começou a ser montado na primeira metade dos anos 50. Amaury Passos, Vlamir Marques, Jamil Gedeão e Édson Bispo dos Santos foram revelados ao longo dos anos 50, ao lado do espetacular Algodão, que tinha brilhado nos Jogos de Londres, em 1948, quando o Brasil ganhou a medalha de bronze. Em Melbourne, o Brasil terminou em sexto lugar, graças ao ingrato sorteio que colocou a seleção na mesma chave de União Soviética e Estados Unidos, as duas maiores potências do basquete.

A Seleção Brasileira de Basquete disputou pela quarta vez os Jogos Olímpicos, com a seguinte delegação:

Chefe da Delegação – José Ferreira Santos

Técnico – Mário Amâncio Duarte

Amaury Antônio Passos              Ângelo Bonfietti (Angelim)

Edson Bispo dos Santos             Fausto Lucena Rasga Filho

Jamil Gedeão                           Jorge Carlos Dorias Olivieri

José Luiz Santos Azevedo          Mayr Facci

Nelson Couto e Silva Lisboa        Wilson Bombarda

Wlamir Marques                        Zenny de Azevedo (Algodão)

A Seleção Brasileira disputou 7 jogos, tendo vencido 3 deles:

Brasil 78 x 59  Chile                       Brasil 89 x 66  Austrália

Brasil 68 x 87 URSS                       Brasil 51 x 113 Estados Unidos

Brasil 73 x 82 Bulgária                    Brasil 89 x 64 Chile

Brasil 52 x 64 Bulgária

Assim, os resultados internacionais da Seleção Brasileira em eventos mundiais passou a ser:

Olimpíada de Berlim 1936 – 9o. lugar

Olimpíada de Londres 1948 –  3o. lugar

I Campeonato Mundial na  Argentina 1950 – 4o. lugar

Olimpíada de Helsinque 1952 – 6o. lugar

II Campeonato Mundial no Rio de Janeiro 1954 – 2o. lugar

Olimpíada de Melbourne 1956 – 6o. lugar

 

Pólo Aquático

Jogo Hungria 4 x 0 URSS

Este jogo ficou conhecido como a Piscina de Sangue, em função do clima de guerra envolvendo os dois países, após a invasão da Hungria pela URSS. A equipe perdedora saiu do estádio sob apupos.