Curiosidades Olímpicas

1936 - Berlim

Fonte: Comitê Olímpico Brasileiro

1.Introdução

Período:  1 a 16 de agosto

Países: 49                   Atletas: 4.066 (3738 h e 328 m)  

Atletas Brasileiros: 94 (88 h e 6 m)

Modalidades: atletismo, basquete, beisebol (demonstração), boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica artística, hipismo,  handebol, hóquei sobre grama, levantamento de peso, luta, natação, pentatlo moderno, pólo, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tiro esportivo e vela.

Medalhas Brasileiras: 0

2. Cenário Mundial

Em 1936 o Brasil viveu novos redemoinhos de contradição que, além de fazer parte da história do país, foram características do primeiro governo de Getúlio Vargas.

Aquele foi o último ano da chamada República Nova. Já no ano seguinte, Vargas decretaria o Estado Novo. O desgaste econômico, que vinha desde 1929, tornou-se maior a partir de 1932. O problema da dívida externa era também grave. Um ano antes, em 1935, uma tentativa de golpe fracassou, e o governo decidiu implantar o Estado de Sítio.

Ainda assim, foi um ano também marcado por manifestações positivas na cultura brasileira. O historiador Sérgio Buarque de Holanda publicou seu Raízes do Brasil, Manuel Bandeira lançou Estrela da Manhã, Graciliano Ramos voltou às livrarias com Angústia.

Foi também o ano de Sílvio Caldas cantando Chão de Estrelas (Orestes Barbosa), e de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres apresentarem Pierrô Apaixonado.

Contradições no Brasil, convulsão na Europa: o fascismo se consolidava na Itália de Mussolini, o nazismo de Hitler fazia o continente assombrar-se de medo com a Alemanha. Na Espanha, desatou uma guerra civil que duraria 3 anos. Começava ali um dos mais graves ensaios militares dos tempos modernos. Foi durante aquela guerra que pela primeira vez uma população civil, a da pequena cidade basca de Guernica, foi dizimada por um bombardeio aéreo. Os rebeldes do General Franco podiam contar com armas, munições e assessoria de militares alemães.

Boa parte das artes e da cultura daquele tempo se uniu ao redor dos republicanos espanhóis. Assim participaram Malraux, Saint-Exupéry, George Orwell, Hemingway e Pablo Neruda.

Nos Estados Unidos reuniam-se esperanças de um país envolto por uma crise econômica da qual apenas começava a se recuperar. Chaplin sacudia as platéias com seu Tempos Modernos.

Na Alemanha, enquanto isso, o governo preparava-se para cumprir o sonho de Adolf Hitler: provar a superioridade não só de seu país, mas da raça ariana.  O Ministro da Propaganda do III Reich, Joseph Goebbels, entendia que seria uma ótima oportunidade para reunir atletas de meio mundo, e “esmagá-los com o desempenho dos alemães”.

Na cerimônia de abertura dos X Jogos Olímpicos, pela primeira vez houve a presença da tocha olímpica, e também teve a revoada de 30.000 pombas brancas, para mostrar que o governo queria a paz entre os povos – isto tudo com um time de respeito na Tribuna de Honra – Hitler, Rudolph Hess, Joseph Goebbels, Hermann Guerin e outros próceres do regime.

Foi a primeira transmissão por televisão dos Jogos Olímpicos, como também foi a primeira vez em que o Basquete participou dos Jogos Olímpicos.

3. Destaques Principais

E aconteceu o inesperado. A equipe de atletismo dos Estados Unidos, arrasou: levou 14 medalhas de ouro. Oito delas foram conquistadas por negros. Um único negro levou quatro medalhas de ouro no atletismo, batendo inclusive o alemão Carl Ludwig Luz Long, esperança maior de Hitler na prova de salto em distância. Aliás o resultado na prova de salto em distância desse neto de escravos – Jesse Owens – só foi superado 32 anos depois, nos Jogos realizados na altitude da cidade do México.

Mas, nem só esse feito marcou a disputa entre Long e Owens. Ocorre que no final do salto em distância, os dois conversavam, entre uma tentativa e outra. Mais tarde  se soube que Long chegou a dar algumas sugestões a Owens, para que este melhorasse seus saltos, numa demonstração absoluta de espírito olímpico.

No final, Jesse Owens, que passou a maior parte da disputa em segundo lugar, conseguiu superar-se e ganhar a medalha de ouro, deixando a de prata para Long, de quem ficou amigo para sempre.

Foi Jesse Owens o maior herói daqueles Jogos e um dos maiores da história do atletismo.

Outros feitos importantes também merecem registro. Na prova de salto em altura o americano Cornelius Johnson foi o primeiro a saltar mais de dois metros. Glória alemã foi Hans Voelcke, o primeiro a lançar o peso a mais de 16 metros.

Mas não houve nada que pudesse tirar de Hitler o amargo sabor do fracasso. Nem mesmo o fato de, na contagem geral, a Alemanha ter conquistado o maior número de medalhas, inclusive as de ouro.

4. Participação Brasileira

O Brasil não mandou uma, e sim duas delegações. Havia a oficial, mandada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (e reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional), e outra delegação paralela, mandada pela Confederação Brasileira de Desportos (apoiada pelor Getúlio Vargas).

No meio daquela tensão, o Brasil se multiplicava em duas delegações. Os atletas mandados pelo COB foram direto para a Vila Olímpica, já a outra delegação teve que passar a noite numa estação de trem. Depois de muitas idas e vindas, chegou-se a um acordo na véspera da abertura dos  Jogos de Berlim.

De Berlim, nenhum atleta trouxe medalha. Cabe registrar, porém, que aquela foi a última vez em que  os brasileiros voltaram dos Jogos Olímpicos de mãos vazias.

Seja como for, algumas lembranças foram boas. Sylvio de Magalhães Padilha, que depois seria presidente do COB durante duas décadas, conseguiu um quinto lugar nos 400 metros com barreira. Na primeira eliminatória, ele fez o segundo melhor tempo. No dia seguinte, precisava chegar entre os três primeiros para garantir um lugar na final. Quando faltavam 100 metros para a chegada, estava em quinto. Pulou para quarto e, quase na linha de chegada ultrapassou o húngaro Kovacs,  campeão europeu, marcando o tempo de 53 segundos e três décimos, recorde brasileiro e sul-americano. Na final, Padilha foi o quinto colocado, com o tempo de 54 segundos. Não subiu ao pódio, mas sua colocação foi muito aplaudida.

O Basquete brasileiro esteve presente com sua Equipe Masculina composta pelos 10 atletas abaixo listados:

Aluízio Ramos Accioly Netto (Baiano)            Américo Montanarine

Armando Albano                                       Ary dos Santos Furtado (Pavão)

Cármino de Pilla                                       Miguel Pedro Martinez Lopes

Nélson de Sousa                                      Antonio Luiz de Barros Nunes (Cacau)

Oscar Zelaya Alonso                                 Waldemar Gonçalves (Coroa).

Conquistaram o 9o. lugar, após as seguintes partidas:

Brasil 17 x 24 Canadá          Brasil 18 x 23 Chile

Brasil 32 x 14 China             Brasil 25 x 33 Polônia

O Brasil levou seis mulheres aos Jogos, Maria Lenk entre elas. Mas foi Piedade Coutinho quem conseguiu o melhor resultado, chegando em quinto lugar na prova dos 400 metros de nado livre.

Na prova da carabina, José Salvador Trindade Mello foi o quinto colocado. João Havelange também participou dos Jogos, competindo em duas provas como nadador.

A maior lembrança dos Jogos Olímpicos de Berlim será sempre o espírito olímpico prevalecendo acima das pretensões extra-esportivas de quem pretendeu turvar, por razões políticas, a ação dos atletas.

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“Registro Especial sobre Armando Albano:

Armando Albano disputou pela Seleção Brasileira de Basquete três campeonatos sul-americanos. Em 1934 (39 pontos em 5 jogos), quando o Brasil terminou a competição em 3° lugar. Em 1935 (fez 31 pontos em 4 jogos), ajudando a levar a seleção ao vice-campeonato frente à Argentina, em pleno Rio de Janeiro. Em 1939, novamente no Rio de Janeiro, Armando Albano disputou o sul-Americano pela terceira ocasião (6 pontos em 2 jogos), e assim ajudou o Brasil  a ser campeão daquele ano.

Armando Albano jogava no  Fluminense e depois no  Botafogo Football Club. Em 11 de junho de 1942, numa partida válida pelo Campeonato Carioca de Basquete disputada no ginásio do Mourisco Mar contra o Club de Regatas Botafogo, Armando entrou em quadra atrasado e no intervalo do jogo, ao abaixar-se para pegar uma bola, Armando teve um infarto fulminante. A morte do atleta foi o pretexto necessário para que os presidentes dos dois Botafogos se unissem a fim de realizar a fusão dos clubes. Após seis meses do falecimento de Armando Albano, era oficializada a criação do Botafogo de Futebol e Regatas.”

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